sexta-feira, 11 de março de 2011

Speed Dating - Versão dela




Speed dating. Ou encontros rápidos. Lara gostava ainda menos do nome em português do que da própria definição. Já que, para ela, significava homens e mulheres desesperados, presos no mesmo lugar, fingindo que ali poderiam conhecer sua alma gêmea. Como havia repetido sem parar para sua amiga Cíntia, era como se essas pessoas tivessem se contentado em serem as sobras do mundo dos relacionamentos.

- Bobagem! - retrucava Cíntia, toda vez - Pense nisso como um jeito de se divertir! Você não precisa sair com ninguém depois! Garanto que vai render boas gargalhadas.

Lara ajeitava os óculos e fazia cara de irritada. Não acreditava que ser rejeitada por homens que não passariam nem 5 minutos com ela renderia boas gargalhadas. Por fim concordou, mas não sem antes se fazer de ofendida pela sugestão da amiga de usar lentes de contato em vez dos "óculos fundo de garrafa".

Chovia no dia em que as duas combinaram de juntar-se ao complicado mundo do speed dating. Quando Cíntia chegou, Lara já a esperava, na frente do bar, embaixo de um chamativo guarda-chuva amarelo, tentando revisar todas as regras dos mini-encontros na sua cabeça.

- Por que você já não entrou e saiu dessa chuva?

- Sozinha?! Você tem que estar brincando.

Entraram. Mas foram direto para o banheiro, antes de falar com qualquer um. "Retoques", explicara Cíntia, roubando aquele pente faltando um dente da bolsa da amiga - aquele que em vez de se jogar fora vai parar na bolsa, justamente para emergências assim.

O primeiro encontro de Lara fora um desastre. Sua primeira frase para o seu acompanhante tinha sido: "Eu não acredito em speed dating. Estou aqui só porque minha amiga não queria vir sozinha".

Os encontros seguintes não foram muito não foram muito melhores, mas pelo menos ela estava se divertindo. Para cada homem que vinha ela inventava um nome, um emprego e um sonho de vida.

- Você não vai dizer para nenhum deles que é arquiteta? Ou que acabou de sair de um relacionamento? Você realmente precisa inventar tudo? - ralhara Cíntia da mesa do lado. Tinha decidido intervir, depois de observar de canto de olho a amiga tirando uma foto de férias da carteira, na qual ela estava de snorkel, e afirmar ser instrutora de mergulho.

Lara havia respondido que talvez Cíntia devesse se preocupar mais com seus próprios encontros do que com os dos outros.

- Mas assim você pode deixar sua alma gêmea escapar! - ela ainda pôde replicar antes que os próximos homens se sentassem à mesa.

Lara revirara os olhos, com uma pitada de drama. E sem nem olhar para o seu novo acompanhante, falara automaticamente:

- Oi, sou Sofia, sou astrônoma e tenho quatro filhos.

- Sério? - Respondera o homem, com um sorriso e uma sobrancelha erguida - Você não me falou nada disso quando a gente saia. Vai ver foi por isso que não deu certo.

Fora a vez de Lara de ficar surpresa. Era ele quem estava ali. O homem que partira seu coração. Ela preferiria morrer a admitir que ainda possuía uma foto dele, bem guardada dentro de um dos seus livros mais especiais - um livro incomum, para dizer o mínimo - um livro com formato redondo, que ele mesmo tinha dado a ela de presente. Claro que apesar de todas as lembranças e sentimentos, ela recuperara a compostura bem rápido.

- Ah, então é isso que aconteceu com você depois que a gente terminou? Teve que se rebaixar a speed datings?

Ele rira.

- Bom, sinto muito tirar você do seu mundinho, mas caso você não tenha reparado, nós dois estamos aqui.

Ela não havia respondido, só o encarado desafiadoramente.

Ele a encarara de volta, por alguns segundos e disse:

- É isso que você quer? Ficar quatro minutos em silêncio?

- O que eu tenho pra falar para você vai demorar muito mais do que quatro minutos.

Então eles se levantaram. Quase como se fosse coreografado. E foram em direção à porta do bar, em direção à noite chuvosa lá fora. Porque quase todas as grandes hisórias de amor acontecem na chuva. E porque, afinal, um encontro com a pessoa certa nunca será apenas um encontro rápido.


***

Esse texto na verdade veio de um exercício, em que recebíamos 5 objetos que deveriam aparecer na narrativa. Os meus foram:

- Óculos fundo de garrafa

- Guarda-chuva amarelo

- Pente falatando um dente

- Máscara de mergulho (que eu troquei por snorkel, mas tudo bem)

- Livro redondo


3 comentários:

  1. GE-NI-AL!!! Estou orgulhosa demais de você!

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  2. GE-NI-AL!!! Estou ogulhosa de você!

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  3. Muito boa as duas visões. Seus textos me fazem visualizar certinho o que se passa em cada um deles.

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