sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

No consultório


Entrei no táxi e meia hora depois estava no consultório. Não que a viagem até lá tenha sido fácil. Tive que usar todo o meu jogo de cintura para marcar aquela consulta de última hora - ou seja, falando claramente que se não me arrumassem um horário, eu simplesmente apareceria lá e faria um escândalo. A secretária pareceu surpreendentemente calma com a minha ameaça, mas depois cedeu.
Quando cheguei, fui em direção à porta do consultório, mas não sem lançar um olhar para secretária, digno de nossa conversinha pelo telefone. Ao abrir a porta, imediatamente sentei-me no divã.
- Ele não ligou.
Esperei uma resposta. Será que ele não tinha entendido? Resolvi acrescentar mais drama:
- Faz três dias - e nem em um minuto dessas 72 horas eu pensei em outra coisa. Mas isso eu não disse. Não queria parecer obcecada ou algo assim.
- Por que você não ligou?
Fiquei um pouco irritada. Eu teria que explicar tudo?
- Não são as mulheres que fazem isso.
- E como você se sente, por ele não ter ligado?
Eu não considerei essa pergunta digna de uma resposta, então resolvi mudar de assunto.
- Eu não entendo. Se você fosse ele, você ligaria?
Ele não respondeu de imediato, pareceu surpreso. Mas, afinal, era uma pergunta simples, então mantive meus olhos cravados nele. E continuei esperando.
- Ligaria? - Reforcei, e aproveitei o silêncio para dar uma sacudida no meu cabelo, sabe, dar uma ajeitada, já que ele esteve preso durante toda a viagem de táxi. Claro que meus olhos não saíram dos dele nem por um segundo.
- Você gostaria que eu ligasse? - Ele respondeu meio sem jeito. Mas ele nunca tivera muito jeito mesmo. Só demorou um instante para ele perceber o que disse e ficar ainda mais desnorteado.
Eu sorri, agradeci e me levantei. Por isso que eu tinha dois analistas. Afinal, esse aqui, mesmo sem saber de nada, acabava me ajudando, de um jeito ou de outro.


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